terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Direito a ser humano

«- Mas os inconvenientes agradam-me.

- Mas não a nós - volveu o Administrador. - Nós preferimos fazer as coisas com todo o conforto.

- Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o autêntico perigo, quero a liberdade, quero a bondade, quero o pecado.

- Em suma - disse Mustafá Mond -, você reclama o direito de ser infeliz.

- Pois bem, seja assim! - respondeu o Selvagem em tom de desafio. - Reclamo o direito de ser infeliz.

- Sem falar no direito de envelhecer, de ficar feio e impotente, no direito de ter a sífilis e o cancro, no direito de não ter de comer, no direito de ter piolhos, no direito de viver no temor constante do que poderá acontecer amanhã, no direito de apanhar a febre tifóide, no direito de ser torturado por indizíveis dores de todas as espécies.

Estabeleceu-se um longo silêncio.

- Reclamo-os a todos - disse, por fim, o Selvagem.


Mustafá Mond encolheu os ombros.

- Oferecemos-lhos da melhor vontade - respondeu


Admirável Mundo Novo