Eu quando começo a escrever tenho uma boa ideia do que será o primeiro capítulo, talvez o segundo, mas depois eu não sei o que vai acontecer, gosto de ir descobrindo o que vai acontecendo e de eu mesmo ficar surpreendido com o rumo que a história leva, os personagens que aparecem e as escolhas que tomam. Parece-me que se traçar um rumo à partida tudo será demasiado contrived, demasiado forçado.
Como a nossa própria vida, aliás. Amanhã, eu sei mais ou menos o que vou fazer. Talvez até tenha uma boa ideia do que irei fazer depois de amanhã, mas no fim de semana? Não faço ideia. Quanto mais daqui a um mês, ou mesmo daqui a 10 anos. Como é que eu posso dizer que dia 23 de Março de 2020 estarei em Sidney, Austrália para ver o novo filme de Martin Scorsese, com o Robert DeNiro. Irei acompanhado por uma portuguesa e um tailandês. A portuguesa vai adorar o filme, mas o tailandês não vai achar piada nenhuma. Depois, vamos todos almoçar a um restaurante mexicano e... Quer dizer, isto não faz sentido nenhum, eu não posso prever isto.
Mas se eu quiser mesmo que daqui a 10 anos esteja em Sidney, terei de afunilar toda a minha vida, orientar o meu percurso para atingir esse estado, será uma vida artificial.
Richard Zimler, 23 Março 2010
1 comentário:
O Zimler é judeu, não conta. Claro que não pode prever quando é que vai ser expulso de um país, mas os comuns dos mortais têm mesmo de prever a sua vida! :p
Enviar um comentário